Resumo O artigo analisa a interação entre o sistema de justiça criminal e indígenas do povo Xakriabá que respondem a processos criminais na comarca de Manga, no norte de Minas Gerais. Para isso, utilizo o material colhido no trabalho de campo que realizei na região no início de 2020, bem como a legislação vigente, a jurisprudência selecionada do Supremo Tribunal Federal e os documentos produzidos pelos órgãos responsáveis pelas políticas criminal e prisional no Brasil. Argumento no artigo que a categoria de "indígena" mobilizada por agentes estatais difere daquela concebida pelos próprios Xakriabá, e que dessa dissonância frequentemente decorrem a falta de reconhecimento étnico dessas pessoas durante o processo penal, e do registro de sua presença nos documentos oficiais da administração penitenciária. Como consequência, o que se vê é a violação do direito à autoidentificação e a não aplicação das garantias legais concedidas a todas as pessoas indígenas pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Abstract The article analyses the interaction between the criminal justice system and persons of the Xakriabá Indigenous people facing criminal prosecution in the Manga district in Northern Minas Gerais. To do so, I draw on the material gathered in the fieldwork I carried out in the region in early 2020, as well as on current legislation, selected jurisprudence from the Supreme Court, and documents produced by the bodies responsible for the criminal and prison policies in Brazil. I argue in the paper that the category of 'Indigenous person' mobilized by state agents differs from that conceived by the Xakriabá themselves, and that this dissonance often implies the lack of ethnic recognition of these persons throughout the criminal process and the failure to record their presence in official prison management documents. As a consequence, what is seen is the violation of the right to self-identification and the non-enforcement of legal guarantees granted to all Indigenous persons by the Brazilian legal system.
Resumen El artículo analiza la interacción entre el sistema de justicia penal y los indígenas del pueblo Xakriabá que responden a las demandas penales en el distrito de Manga, en el norte de Minas Gerais. Para lograrlo, utilizo el material reunido en el trabajo de campo que realicé en la región a principios de 2020, así como la legislación vigente, la jurisprudencia seleccionada del Tribunal Supremo y los documentos producidos por los órganos responsables de las políticas penales y penitenciarias en el Brasil. En el artículo se sostiene que la categoría de "indígena" movilizada por los agentes estatales difiere de la concebida por los propios Xakriabá, y que esta disonancia suele ser resultado de la falta de reconocimiento étnico de estas personas durante el proceso penal, y del registro de su presencia en los documentos oficiales de la administración penitenciaria. En consecuencia, lo que se observa es la violación del derecho a la autoidentificación y la inaplicación de las garantías jurídicas que el sistema jurídico brasileño otorga a todos los pueblos indígenas.